segunda-feira, 18 de julho de 2016

Um rua em Cardiff


     Desde  que  deixei  meu  emprego  na  universidade  onde trabalhava, passei a ter uma vida meio errante como tradutor e intérprete. Espero voltar para outra universidade em breve, pois gosto do contato com os alunos. Enquanto isso, de vez em quando viajo pelo país em virtude das necessidades do trabalho e aproveito para conhecer melhor o que existe por aqui. 
     Estou  hoje  em  Cardiff,  no  País  de  Gales,  num  dos raros dias de sol nestas latitudes. Tendo tido a opção de me hospedar em hotel ou na casa de uma família galesa, preferi sem dúvida a segunda alternativa. Assim, estou num bairro da cidade, próximo da área central, de um parque e de um castelo. Quanto à família que me recebeu, pai, mãe e dois filhos adolescentes têm me tratado muito bem. Gostam de conversar comigo e de me perguntar coisas do Brasil enquanto tomamos juntos um chá no fim da tarde, quando chego. Embora nosso país ultimamente venha nos dando muitos motivos para falar mal dele, prefiro lhes contar sobre como as pessoas em geral são boas, calorosas e hospitaleiras em nossa terra, sobre como nossas comidas são deliciosas e, já que desejam sempre saber, como o tempo está quase sempre bom e ensolarado nos trópicos, o que lhes causa verdadeira inveja.
     Aí  está  a  rua  de  casas  de  um  estilo  vitoriano tardio onde estarei até amanhã. Gosto da forma como os arquitetos aproveitam bem os espaços para criar cômodos bastante amplos em dois ou três andares. E, nesta época do ano, gosto também dos jardins sempre muito coloridos, com hortênsias resplandecentes por todo lado.
     Como  estamos  na  beira  do  mar,  têm  me  chamado atenção as gaivotas, que estão por todo lado, sempre sobrevoando nossas cabeças e sempre gritando, como a se comunicarem em sua busca por comida.
     Uma  das  coisas  que  me  fascinam  nos  lugares  que  tenho visitado são os nomes das cidades. Alguns são poéticos, outros estranhos, outros originais: Tallin, Marrakech, Ayutthaya, Siem Reap, Penang, Kiev, Brugges, Tacuarembó, Cochabamba, Aiuruoca, Araraquara, Farroupilha... Desejaria conhecer as cidades de Kandahar, Vladkavkaz ou Isfahan somente pelos nomes que têm. Cardiff, com esses dois "efes" no final, é um desses nomes que instigam a vontade de viajar.
     Quanto  às  cidades  britânicas  especificamente,  o que mais me agrada nelas é sua abundância de parques e outras áreas comuns, abertas à frequentação de todos. Quando vejo isso, penso no quanto falta às cidades brasileiras um planejamento para o coletivo. Se elas tivessem mais espaços de convivência entre pessoas diferentes, por certo teríamos menos violência, preconceito e discriminação.
     Sempre  que  vou  a  um  lugar  diferente,  sempre  que experimento um novo sabor, sempre que vejo meninos brincando pelos parques, costumo pensar em você e dar vazão a minha saudade, que vai ficando mais intensa à proporção que aumenta o tempo da distância entre nós. Mas há que se ter paciência e enfrentar os desafios que a vida nos apresenta.

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