quinta-feira, 9 de junho de 2016

Tempus fugit


     Estou passando dois dias no norte da Inglaterra, para um trabalho breve. Hoje, quando voltava para o hotel, deparei-me com este relógio de rua e sua solene advertência latina de que "o tempo voa". Em cima, a personificação alada da morte com sua foice que haverá de nos cortar o fio da vida quando for chegada a hora. Para além de uma óbvia admoestação contra a preguiça e a procrastinação, a frase me fez pensar em minha perambulação pela vida. Às vezes me parece inacreditável que eu já esteja há praticamente cinco anos vivendo longe do Brasil. Se nesse tempo tive a oportunidade de me recriar e muita coisa aconteceu, é de se considerar também o que não aconteceu. A distância me afastou de muita gente, renunciei à estabilidade de uma carreira numa de nossas universidades públicas, deixei do outro lado do Atlântico minha família, meus amigos, meus cachorros e meus livros. Por fim, fiquei definitivamente apartado de você, embora busquemos estar em contato e eu realize uma longa viagem duas vezes por ano, ficando alguns dias em São Paulo somente para reencontrá-lo. Eu que tantas vezes o carreguei no colo e depois nos ombros, em cada uma dessas ocasiões me surpreendo com seu tamanho, seus novos dentes, o formato de seu rosto, o comprimento de seus braços e pernas, as mudanças na sua voz, seus ares de mocinho. Depois de receber seu abraço e passarmos um fim de semana juntos, apesar da felicidade de partilhar uma fatia de vida com você, costumo retornar com um sentimento de que não o conheço muito bem. Mas exatamente porque o tempo voa e a morte empunha sua inexorável foice, quero que nossos momentos juntos, por efêmeros que sejam, possam ser vividos com a alegria capaz de nos fazer esquecer do próprio tempo e de nossa própria finitude, pois dessa forma serão momentos da eternidade.

Nenhum comentário: