quarta-feira, 27 de maio de 2015

Um pai fictício

     Terei  uma  temporada  de  pelo  menos  dois  meses  e meio sem ter de comparecer à universidade. Este é um período de pesquisa, mas tenho pensado em, paralelamente à pesquisa, escrever um romance com um protagonista inspirado em meu pai. Ele foi uma figura excelente para uma obra ficcional, em virtude de suas contradições e seus excessos.
     Recentemente  li  Um Bom Filho,  relato autobiográfico do filósofo e escritor francês Pascal Bruckner sobre seu pai, que foi um tirano doméstico, um admirador do nazismo e uma antologia das tolices mais espúrias. Talvez eu não tenha muito estômago para expor, como Bruckner, as misérias de meu próprio pai, inclusive por eu mesmo possuir as minhas, tendo evitado julgá-lo agora que ele está morto. Por isso prefiro o registro da ficção, fazendo com que sua personalidade se construa conforme as necessidades da história e inventando coisas que não correspondem à realidade do que ele foi.
     Não  sei  onde  isso vai dar, se é que vai dar certo. Mas já tenho inclusive um plano da história, sabendo como ela vai começar, desenvolver-se e terminar. Tenho pensado no tom da linguagem e se ele mesmo aparecerá falando e se expondo ou se será, em grande parte, apresentado por outro personagem, provavelmente um filho, que conta e comenta suas ações. Tenho até um título provisório: Em Nome do Pai. Mas tenho certo receio construir uma imagem muito negativa dele, pois, para efeito literário, temos sempre de exagerar um pouco as coisas. Tenho inclusive certo receio do que você pensará sobre a desarmonia do lar em que me criei. Mas a vida não é nenhum parque de diversões, como você já deve saber. Não tenho por que me refrear por causa disso.

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