sábado, 9 de maio de 2015

Com o Guarani em Londres


     Acabo  de  chegar  de  um  jogo  de  futebol  para  o qual me convidam a cada duas semanas. O campo fica no norte de Londres, perto do estádio do Arsenal. É sempre um time de camisa branca contra um time de camisa vermelha, e o nível técnico dos jogadores, em geral uns dez anos mais jovens que eu, é bom. Hoje fiz parte da equipe branca. Ganhamos por 5x3. Joguei bem e fiz quatro gols, inclusive dois de cabeça.
     Quando  jogo  no  time  branco,  costumo  ir  com uma camisa do nosso Guarani, cuja única aspiração no Campeonato Mineiro tem se limitado a não cair para a segunda divisão e, se possível, tentar dificultar as coisas para Atlético e Cruzeiro quando os enfrenta, o que muito raramente acontece. Não foi sempre assim. Quando eu era menino, no final da década de 1970 e início da de 1980, meu pai às vezes me levava ao estádio no bairro Porto Velho - onde na adolescência eu viria a jogar muitas vezes -, para ver um excelente Guarani, que tinha  jogadores como Gilberto Voador, Catatau, Fernando Roberto, Coca, Prego, De Paula. Este último, que mais tarde, após o fim da carreira, seria assassinado durante um assalto, era vizinho de nossa família no bairro Afonso Pena e nosso amigo, excelente lateral direito e grande figura. Mesmo o grande Galo de Toninho Cerezo e Reinaldo sempre tinha muitas dificuldades para ganhar daquele Guarani em Divinópolis. Até que o futebol foi se tornando cada vez mais elitizado, sendo os campeonatos estaduais completamente dominados por dois ou três clubes todo-poderosos contra quem os pequenos não têm chances.
     Voltando  ao  jogo  de  hoje,  minha  camisa  do Guarani, que nem patrocínio tem, desfilou em campo entre camisas brancas ou vermelhas do Arsenal, do Manchester United, do Liverpool, do Milan, do Real Madrid, do Bayern de Munique, das seleções da Alemanha, da Inglaterra e da Espanha, quase todas exibindo no peito logotipos de grande empresas. Entre esses gigantes do business futebolístico, lá estava eu quixotescamente fazendo meus quatro gols e dando minhas pedaladas com a camisa do nosso humilíssimo Guarani. Outro dia me perguntaram se se trata de um time da segunda divisão no Brasil, ao que eu respondi: "Mais ou menos". 
     Espero  que  você  também  esteja  mostrando  o  seu futebol pelos campos da cidade de São Paulo - entre camisas do Corinthians, do Palmeiras, do São Paulo e do Santos - com a camisa vermelha e branca do Guarani que lhe dei há cerca de dois anos. Jogue bem com ela e mostre aos paulistas a força das suas origens, apesar de, a rigor, você ser um belo-horizontino.

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