segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dos bens não contáveis

     Vivemos  num  tempo  em  que  tudo  se  mede por sua utilidade e seu valor pecuniário. O mercado tornou-se uma religião que, como toda religião, possui seus dogmas e gera seus fanáticos. Os publicitários tornaram-se os novos sacerdotes. E o shopping center, essa catedral do consumo, passou a ser o lugar aonde se vai para exercitar uma fé que se confunde com uma compulsão de comprar. No entanto, se as religiões tradicionais celebram uma experiência coletiva e comunitária, a religião do mercado é a celebração do individualismo mais boçal e alienado.
     Vivendo na capital mundial dos shopping centers, sendo vizinho de um deles, espero que você esteja tendo a possibilidade ter como cenário de sua vida lugares mais interessantes, como as ruas, os parques, as praças, as estradas, os campos de futebol, o teatro, a escola, as feiras livres. E que possa conviver também com pessoas diferentes daquelas pertencentes à classe média paulistana, que, em sua grande maioria, é composta por reacionários, preconceituosos, ignorantes, atrasados e mal-educados, ainda quando possuem formação universitária e exercem profissões liberais.
     Acima  de  tudo,  desejo  que  você  saiba  valorizar o que não pertence estritamente à ordem da utilidade e do que pode ser medido em números. Tais coisas a jamais se perder de vista se resumem aos grandes temas que nos tornam humanos, como o amor, a poesia, o erotismo, a contemplação da natureza, a solidariedade, a amizade, o respeito pela vida em comunidade e o bem público, ou seja, tudo aquilo que o livrará da mesquinhez, da avareza espiritual, da mediocridade pecuniária e da compulsão maníaca de acumular. Claro que você deverá cuidar de seu bem-estar material, o que também é importante. Apenas busque-o com dignidade e mantenha esses bens maiores sempre em seu horizonte.

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