Numa crônica que é uma das páginas de mais profunda poesia na literatura brasileira, Rubem Braga diz que seu ideal seria escrever uma história tão engraçada que trouxesse o riso e a alegria a uma moça doente e reclusa de uma casa cinzenta de seu bairro. E que, a partir de então, sua história de espírito chapliniano se espalhasse pelo mundo, divertindo as pessoas e fazendo com que elas se tornassem mais generosas e mais humanas.
Pensei no ideal de Braga ao imaginar a mensagem ideal que gostaria de escrever para meu filho. Sem dúvida seria também um texto bem-humorado, que o faria rir muito e dizer: "Mas o papai é muito engraçado!" Seria simples, terna e intensa como um abraço no momento de um encontro após longo tempo sem nos vermos, dizendo coisas essenciais. Seria concisa, de modo a atingir sua sensibilidade de forma direta e franca. Conteria o sentido de proteção e segurança de nossas mãos dadas ao atravessar uma rua movimentada de São Paulo, o encanto das lendas e mitos que eu lhe contava à beira da cama, quando você ia dormir, o ânimo de nossas conversas durante os passeios pelas ruas dos bairros de Divinópolis, com você sentado sobre meus ombros. E conteria também o brilho de seus olhos diante de tudo o que veem, o interesse pelo mistério do mundo que dispara suas inúmeras perguntas...
E que essa mensagem pudesse ser lida por outros pais e outros filhos, fazendo com que eles também rissem - se possível juntos -, se abraçassem, se respeitassem e desfrutassem da alegria de se saberem amados e de não estarem sozinhos neste mundo.
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