Já lhe escrevi outras vezes sobre a necessidade de encontrar-se com as pessoas, em especial aquelas com um estilo de vida diferente do seu, conversar com elas, ver que nosso universo de valores e crenças é diverso e muito limitado. Quando buscamos enxergar as coisas do ponto de vista dos outros, aprendemos muito sobre a riqueza de cada ser humano, bem como sobre o respeito que cada pessoa merece. Por isso, quando estamos juntos, gosto de levá-lo ao campus da USP no sábado à tarde, para jogar futebol com os meninos da favela próxima, além de colocá-lo em contato com artistas, velhos, intelectuais, índios, estrangeiros e alguns outsiders que conheço. Costumamos andar de ônibus, de metrô ou trem, o que em si já é uma experiência direta com a variedade da fauna humana.
Contudo, se há o tempo do encontro com os outros, há também o tempo de ficar sozinho. Há alguns dias, eu escrevia aqui sobre Montaigne. Lembro-me de um ensaio sobre a solidão em que ele trata da necessidade de se possuir um recanto pessoal onde podemos nos encontrar com nós mesmos e exercitar a liberdade, a fim de aprendermos inclusive a lidar com nossas perdas e fracassos com um mínimo de leveza. Mas não se trata de um retiro egoísta, um simples mergulho na introversão ou um mecanismo de proteção contra as maldades do mundo. É um espaço para refletir e olhar para dentro de si mesmo, descansando, assim, dos esforços cotidianos e de algumas concessões que inevitavelmente temos de fazer, restabelecendo ou mantendo nossa integridade.
Que você saiba, ao longo da vida, administrar bem essa dialética entre o compartilhamento do mundo com os outros e essa forma de solidão revigorante.
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