sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Decepção e maravilha no Egito















     
     Cheguei  há  quatro  dias  ao  Egito.  Quando  viajo, sempre busco interagir com as pessoas do lugar e participar um pouco de seu cotidiano, além de conhecer o que há de mais significativo em seu patrimônio histórico, artístico e cultural. Desta vez, porém, estou um tanto decepcionado. O Egito, especialmente sua capital, é provavelmente o lugar mais desconfortável e mais irritante do mundo. Há uma grande quantidade de pessoas mal-educadas, muita sujeira e muita poluição, total desorganização, um trânsito em que ninguém respeita as regras mais elementares, taxistas desonestos, vendedores de quinquilharias vagabundas assediando as pessoas por todo lado, homens que fumam em qualquer lugar fechado, pessoas que buscam tirar vantagem dos outros o tempo todo, animais abandonados pelas ruas ou vítimas da violência de bestas humanas, gente vivendo do e no lixo. Percebe-se em todos os lugares a atmosfera de uma violenta ditadura. Cartazes com a foto do ditador Khalil Al-Sisi estão por todos os lugares, e há um rigoroso esquema de segurança por todo lado, com vários lugares de acesso controlado, guardas portando armas pesadas, cachorros que farejam carros que entram em qualquer lugar fechado ou se aproximam de prédios públicos, devendo ainda os motoristas abrirem os porta-malas nos pontos de controle. É o medo de carros-bomba. Tenho visitado lugares pobres e com problemas políticos, não tendo nenhum problema isso. O que não tolero é a indignidade.
     Quando  nossas  burríssimas  elites  e  a parte ignóbil de nossa classe média que as imita ostentam seu complexo de vira-latas e desprezam o Brasil, penso que deviam conhecer um lugar como o Egito, para terem um parâmetro de comparação. Obviamente temos muitos problemas graves, mas em geral vive-se muito melhor no Brasil que na grande maioria dos países deste mundo. E muitos lugares que nossos vira-latas admiram - localizados na América do Norte e na Europa - possuem vários problemas semelhantes aos nossos, além de algumas coisas terríveis que não temos. Mas essa é uma discussão que não tenho nem espaço para desenvolver aqui, tendo de me limitar a essas declarações superficiais.
     Apesar  de  tudo,  tenho  de  dizer  que estar diante das pirâmides foi uma experiência que me impressionou. Tantas vezes as vi ao longo da vida, nos livros de história. Estar diante de sua monumentalidade e suas formas perfeitamente geométricas, dos blocos de pedra enormes que as compõem, entrar nelas e testemunhar a forma como a morte de figuras poderosas da civilização egípcia antiga era ritualizada e respeitada foi recapitular as aulas de Dª. Marli - uma rigorosa professora de história que tive da 5ª. à 8ª. séries - e compreender um pouco mais sobre uma das mais importantes fontes de nossa própria civilização. O Museu Egípcio de Antiguidades também possui um acervo extraordinário, apesar de sua desorganização, precária conservação de obras de valor incalculável, iluminação muito ruim e até limpeza deficiente. E as mesquitas do chamado Cairo Islâmico e da cidadela antiga também impressionam pela beleza de sua realização arquitetônica. 
     Se  estivesse  aqui,  você  iria  talvez  me  desafiar para uma corrida de 50m pela área desértica por trás das pirâmides, já que gosta tanto de disputas comigo. Freud deve explicar isso.

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