domingo, 11 de janeiro de 2015

Uma pedra no peito


     "Com  uma  pedra  no  peito  e  um desespero bruto e estático na alma..." Se não me engano, é um narrador de Dostoiévski que descreve assim o sentimento de um de seus personagens. Ao chegar a minha casa em Londres e ler seu recado de despedida, após haver passado os últimos dois dias com você, sinto algo parecido. Daqui para frente serão muitos meses distantes um do outro, sem que eu possa fazer muita coisa por você, sem que eu saiba muito bem o que tem se passado em sua vida.
     Uma vez, no museu Casa de Anne Frank, em Amsterdã, vi um vídeo em que o pai da garota judia assassinada pelos nazistas conta que, após ler o diário da filha, surpreendeu-se com o quanto os pais não conhecem verdadeiramente seus filhos. Em circunstâncias como as nossas, ainda menos.
     Durante  nossas  conversas  em  São Paulo,  pude ver que você me idealiza e me tem na conta quase de um herói. De minha parte, especialmente ao chegar sozinho em terra estrangeira, acossado pelo frio europeu, tenho comigo um sentimento de fracasso. Não o tenho a meu lado, não possuo uma grande realização intelectual nem em outro campo de atividade, não tenho tido muita habilidade na forma de me relacionar com as pessoas. A coragem de seguir em frente e me reinventar talvez seja uma das poucas virtudes significativas que tenho demonstrado. Mas até isso é enfraquecido pelo fato de eu sequer ter tido outra alternativa. De todo modo, bola pra frente e vamos ficar bem.

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