quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O que nos une

     Nesta longa temporada longe de casa, sempre penso em você e quero saber como está e o que tem feito. De minha parte, sigo com meu trabalho, minhas leituras e meus escritos, o futebol uma vez por semana, a vida que prossegue dentro da "normalidade" possível. Costumo receber por e-mail alguns comunicados de sua escola, com informes sobre procedimentos em relação aos alunos e convocatórias para reuniões de pais. Nunca pude estar presente a uma delas, primeiramente pelos conflitos que tinha de enfrentar no Brasil e depois simplesmente pela enorme distância de nosso país após minha decisão de emigrar para viver e trabalhar no Reino Unido, afastando-me por alguns anos de indignidades e misérias com as quais era obrigado a conviver. Hoje vejo que, apesar do risco de perdê-lo, foi uma decisão acertada. Eu precisava me reconstruir em outro lugar, e, durante estes anos que já correm apressados, nunca nos afastamos. 
     Nos muitos lugares por onde tenho passado, sua voz, sua inocência e sua ternura me acompanham. Sempre lhe envio cartões postais de países diversos, com paisagens diversas, escrevendo-lhe brevemente sobre o meu estado de espírito no momento. Coloco-os no correio para você como um lembrete de que continuo sendo seu pai e que isso jamais nos poderá ser tirado. O sentido de passado, presente e futuro que isso implica, bem como a força de ancestralidade e continuidade que nos une, nos tornam mais humanos e justificam nosso engajamento nos afazeres do dia a dia.

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