segunda-feira, 22 de abril de 2013

Memórias de Belo Horizonte

    Trabalhando na tradução de um romance para o português, de repente uma passagem me fez lembrar do difícil tempo em que morávamos em Belo Horizonte, em seus primeiros anos de vida. Apesar de tantas coisas que me enfureceram, apesar de meu insucesso na capital de Minas, ao menos eu estava junto de você, de quem cuidava, com quem brincava todos os dias, a quem contava histórias na hora de ir para a cama. 
     A passagem do livro em questão trata de um menino brincando na areia com seu baldinho e sua pá. Há muito tempo eu não me lembrava de que toda manhã de sábado eu o levava até um parquinho que fica na rua principal do bairro de Buritis, com seu baldinho e sua pá. Lá você encontrava outros meninos e passava algumas horas revirando a areia e interagindo com eles ou subindo nos brinquedos de madeira rústica que lá havia.
     Há pouco busquei algumas fotografias daquele tempo. Você era bem pequeno. Em geral estamos de boné, para nos proteger um pouco do sol da manhã. Em várias imagens você está no meu ombro ou no meu colo. Há uma em que olho para você com uma expressão de muito orgulho no rosto.
     Agora me lembro também de às vezes levar uma bola de basquete e irmos para as quadras. Eu o colocava no ombro, e você a jogava na cesta muitas vezes, até conseguir acertá-la.
     De vez em quando sou tomado por certa melancolia por haver perdido a sua convivência e por tudo o mais que temos perdido nesses anos todos. Sem dúvida nossa vida empobreceu. Mas as coisas não têm de ser assim para sempre, e nossa vida é cheia de reviravoltas. Que uma delas aconteça nos próximos anos e que possamos resgatar essa alegria de podermos simplesmente ser pai e filho face a face outra vez.

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