domingo, 17 de março de 2013

Um acontecimento

     Nesta úmida manhã de domingo, acordei bem cedinho e, não sei por que, ainda na cama me lembrei de um acontecimento de tirar o fôlego que se deu com nós dois. Se não me engano foi em 2007 ou 2008, durante um tempo extremamente duro da minha vida, em que eu estava deprimido e sem perspectivas. 
     Mas o fato é que você estava comigo em Divinópolis por alguns dias. Frequentemente eu o sentava em meus ombros e saíamos andando meio sem rumo pela cidade, conversando e contemplando as coisas em volta. Me recordo de que tínhamos ido passear pela parte alta do bairro Bom Pastor e estávamos próximos a uma região com poucas casas, alguns córregos e algumas áreas verdes. Foi num momento em que eu vinha carregando-o nos braços. De repente fomos envolvidos por um enorme enxame de abelhas que deviam estar migrando de um lugar para outro. Em meio à nuvem daqueles perigosos insetos, podia-se ouvir um alto zumbido produzido por seu conjunto. Fiquei em estado de tensão ante a possibilidade de sermos atacados, mas procurei manter a calma e não fazer nenhum movimento brusco. Lentamente coloquei-o debaixo de minha camiseta, abracei-o com firmeza e procurei seguir nosso caminho com a naturalidade possível, preparado para nos jogar ao chão e me deitar sobre você, caso as abelhas atacassem. No entanto, após dois ou três minutos atravessando o enxame, saímos dele incólumes e retornamos para casa. Para não assustar minha mãe, que sempre achou que eu costumava lhe propor desafios ousados demais e meio malucos, não contei nem para ela nem para ninguém o que havíamos passado.
     Pouco depois você retornou não me lembro se para Belo Horizonte, se para São Paulo. Eu fiquei em Divinópolis resolvendo minha crise, que envolveu aspectos existenciais, econômicos e de redirecionamento no futuro.
     Ao me lembrar hoje dessa história, penso na fragilidade da vida e na inconsistência de nossas coisas. Aquele acontecimento fortuito, uma simples manifestação da natureza - "nossa mãe e nossa inimiga", conforme Machado de Assis -, poderia ter nos tirado tudo.

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