quarta-feira, 13 de março de 2013

Saudade de Minas


     Sinto sempre muita falta de Minas e, após tantos anos vivendo longe de lá, me percebo como sendo cada vez mais mineiro. Isso transparece nos meus valores fortes, na minha fala cadenciada e até na minha casmurrice. Num dos últimos poemas de Carlos Drummond de Andrade, "A ilusão do migrante", ele definiu muito bem esse sentimento de trazer Minas para sempre dentro da gente. Lembro-me bem desta estrofe:

     Os morros, empalidecidos
     no entrecerrar-se da tarde,
     pareciam me dizer
     que não se pode voltar,
     porque tudo é consequência
     de um certo nascer ali.

     Desejo que você nunca perca a ligação com sua terra e sua cultura, já que, nascido em Belo Horizonte e frequentador assíduo de Divinópolis durante sua primeira infância, está agora sendo criado em São Paulo e sendo preparado para se tornar uma pessoa cosmopolita, metropolitana e aderente aos valores modernos.
     Aí está uma charge que reatualiza o folclore em torno do mineiro na cultura brasileira. Nele o nosso conterrâneo sempre parece sonso e simplório, fazendo inclusive uso de uma linguagem acaipirada, mas é sempre muito sagaz, deixando os nativos de outros estados, especialmente o paulista, em muito maus lençóis.
     E há as frases sobre mineiros. "O mineiro não perde o trem", "O mineiro trabalha em silêncio", "O mineiro não dá ponto sem nó". Para Guimarães Rosa, "ele escorrega para cima". Para Fernando Sabino ele é "manhoso, ladino, cauteloso, desconfiado - prudência e capitalização". Para Otto Lara Resende, o mineiro não tem cautela, tem "pré-cautela". Nelson Rodrigues atribui ao mesmo Otto Lara uma famosa e terrível frase dostoievskiana: "O mineiro só é solidário no câncer". Manuel Bandeira, numa crônica, chamou a atenção para a força de nosso humor: "O mineiro sonso será o nosso grande humorista: na massa anônima da população de Minas Gerais, tenho certeza, existe em potencial a força de um Swift". E atribui-se a um mau governador de Minas outra boa frase: "Mineiro não briga, mas também não perdoa". Até Machado de Assis, em Quincas Borba, ao caracterizar seu protagonista, escreveu: "Certo é que o nosso Rubião, singelo como um bom mineiro, mas desconfiado como um paulista, ia cheio de cuidados, pensando em retirar-se quanto antes"...
     Enfim, espero que Minas para sempre habite o seu coração, onde quer que você esteja. E que nunca deixe de andar por lá, de ver aquelas montanhas e respirar daquele ar, de comer daquela comida, de torcer pelo Galo, de ter aquele jeito de lidar com as pessoas. E já que nos recordamos de tantas frases, aí vai, para terminar, um verso da canção "Para Lennon e McCartney", de Fernando Brant, Márcio e Lô Borges, que talvez resuma tudo isso: "Sou do mundo, sou Minas Gerais".

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