terça-feira, 7 de agosto de 2012

Travis


     No fim do ano passado, quando tivemos um último contato, fui até a entrada do condomínio onde você mora e lhe deixei, entre outras coisas, uma cópia de Paris, Texas, de Wim Wenders, uma obra-prima do cinema recente. Sempre que assisto a esse filme, sou especialmente tocado pelo resgate da relação entre pai e filho após a desagregação da família de Travis, personagem com quem tenho grande identificação. Como ele, baixei aos infernos e tive de enfrentar sozinho a depressão, a falta de perspectivas, a necessidade de me reinventar e recriar a minha vida. Mas, também como ele, não tenho nenhuma mensagem edificante nem resolvi os meus dilemas e desafios. E, diferentemente dele, ainda não tive a oportunidade de refazer nossa convivência de pai e filho e encontrar um caminho possível à margem da canalhice que nos separou. 
     Um dia, quando você crescer um pouco mais, ao ver esse filme, haverá de compreender muito do que se passou em nossas vidas e de tomar consciência da precariedade das coisas humanas.

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