sábado, 7 de novembro de 2015

De um pai ausente

     Uma  vez  ouvi  o  educador,  sociólogo,  antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro dizer ironicamente, ao fazer um relato autobiográfico, que ele teve a sorte de perder o pai aos três anos. Talvez você possa dizer algo semelhante, não por haver me perdido, mas por haver se separado de mim na mesma idade. Hoje, após tanto sofrimento e tantas perdas, olhando para trás e avaliando esses sete ou oito anos de ruptura, vejo que, em muitos aspectos, ainda pior que ter um pai ausente é ter um um pai presente, já que você tem crescido sem essa autoridade repressora e sufocante a seu lado todos os dias, podendo ter uma infância mais livre e mais espontânea. Não que eu não me importe com o que está se passando em sua vida nem procure saber do que tem feito, como tem se desempenhado na escola e como tem se comportado. A separação teve isso de bom: estou em posição de ser incentivador de suas vocações e ajudá-lo a descobrir sempre coisas novas e alçar voos próprios sem o desgaste e a aridez do cotidiano. E cada um de nossos encontros, por raros que sejam, são sempre uma aventura e uma ocasião muito aguardada e planejada. A felicidade e a cumplicidade de nossos encontros nunca nos puderam ser tiradas.

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