terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Na casa da vovó

     Faz  dois  dias  que  chegamos  a  Divinópolis,  depois de reencontrá-lo após quase dois anos de uma sofrida distância de milhares de quilômetros e um oceano de entremeio. Passamos o último fim de semana em São Paulo, andando pelas ruas centrais e observando os personagens da megalópole.
     Você  tem  estado  comigo  quase  o  tempo  todo, contando-me sobre o que tem feito, desafiando-me para corridas de 50 m e jogando futebol todos os dias. Percebo sua carência da figura paterna, que se manifesta em sua vontade frequente de me abraçar e me beijar. Minha mãe e minhas irmãs estão surpresas com seu tamanho e com o quanto está parecido comigo.
     Ontem  você  me  contou  que  gosta  de  uma  menina na escola, chamada Marcela. Perguntei-lhe como ela é, se do tipo bonitona, sabichona, inteligente, ousada, discreta... Soube, então, que ela é muito bonita, mas que não está lhe dando muita bola, mesmo após haver revelado-lhe os seus sentimentos. Disse-lhe para não se preocupar, pois a vida é assim mesmo, e sempre haverá alguém para você. Soube até que na escola mesma há outras quatro meninas que gostam de você. Portanto, bola pra frente!
     Nestes  dias,  estamos  passando  as  manhãs  em minha biblioteca, lendo, olhando fotografias, ouvindo música, conversando. Depois do almoço, geralmente você vai para a frente do computador, para seus jogos eletrônicos. À tarde, depois de um café, partimos para o campinho, para o futebol do dia. 
     Pérola  tem  estado  o  tempo  todo  a  seu  lado. Acompanha-nos até ao campinho, onde fica farejando todos os recantos enquanto jogamos. Minha mãe já está dizendo que ela é a sua sombra.
     No  próximo  domingo,  será  o  Natal  de  um  ano  que não foi muito fácil para mim. Depois de tantos desencontros, acidentes e desentendimentos, é quase inacreditável que estejamos vivendo um momento como este. Estamos felizes, e este será, para mim, um tempo rejuvenescedor e inspirador. Espero poder retornar a São Paulo no início do ano que vem. Já estou me movimentando para que isso aconteça. Espero, então, poder ter um quarto para meu menino em minha casa e simplesmente exercer esta paternidade que tem encontrado tantos obstáculos ao longo dos anos. Este nosso reencontro e todo o amor que ele traz à tona têm mostrado que nunca deixei de ser seu pai, que você nunca deixou de ser meu filho.

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