quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dostoiévski e as crianças

     Lendo  hoje  o  Diário  de  um  Escritor,  de  Dostoiévski, duas passagens me chamaram muito a atenção e me fizeram pensar em você. Tenho muitas afinidades com as ideias do grande escritor russo acerca das crianças e do modo de se relacionar com elas. Desde que você era ainda muito pequeno, sempre o tratei como uma pessoa inteligente e capaz, sempre ouvi o que você pensava e tinha a dizer, sempre aprendi muito com a forma que você tem de ver o mundo.
     Em  fevereiro  de  1876,  escreveu  Dostoiévski:  "Não devemos ser arrogantes com as crianças, somos piores que elas. E se lhes ensinamos alguma coisa a fim de torná-las melhores, elas também nos ensinam muito e também nos tornam melhores já com o simples contato com elas. Elas humanizam a nossa alma com seu simples aparecimento entre nós".
     Pouco  tempo  depois,  em  maio  do  mesmo  ano,  ele escreve: "Uma criança de cinco, seis anos às vezes sabe mais a respeito de Deus ou do bem e do mal coisas tão surpreendentes e de uma profundidade tão inesperada que você conclui involuntariamente que a natureza dotou essa criança de certos recursos de aquisição de conhecimentos que nós não só desconhecemos, mas, com base na pedagogia, deveríamos quase refutar... ela possivelmente sabe sobre Deus tanto quanto você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal, sobre o que é vergonhoso ou lisonjeiro".
     São  profundas  reflexões  que  vão  de  encontro  ao senso comum, que pensa a criança como uma espécie de idiota a ser tutelado e controlado o tempo todo, apenas um imaturo a quem só se ensina as coisas e de quem nada se aprende. Para mim, que tive a sorte de ter um filho inteligente e sensível como você, as palavras de Dostoiévski são uma realidade muito palpável. Apenas espero que a mediocridade e a ganância das pessoas nunca matem a poesia, a verdade e a eternidade que hoje pulsam em você e que hoje brilham em seus olhos.

Nenhum comentário: