Lendo hoje o Diário de um Escritor, de Dostoiévski, duas passagens me chamaram muito a atenção e me fizeram pensar em você. Tenho muitas afinidades com as ideias do grande escritor russo acerca das crianças e do modo de se relacionar com elas. Desde que você era ainda muito pequeno, sempre o tratei como uma pessoa inteligente e capaz, sempre ouvi o que você pensava e tinha a dizer, sempre aprendi muito com a forma que você tem de ver o mundo.
Em fevereiro de 1876, escreveu Dostoiévski: "Não devemos ser
arrogantes com as crianças, somos piores que elas. E se lhes ensinamos alguma
coisa a fim de torná-las melhores, elas também nos ensinam muito e também nos
tornam melhores já com o simples contato com elas. Elas humanizam a nossa alma
com seu simples aparecimento entre nós".
Pouco tempo depois, em maio do mesmo ano, ele escreve: "Uma criança de
cinco, seis anos às vezes sabe mais a respeito de Deus ou do bem e do mal
coisas tão surpreendentes e de uma profundidade tão inesperada que você conclui
involuntariamente que a natureza dotou essa criança de certos recursos de
aquisição de conhecimentos que nós não só desconhecemos, mas, com base na
pedagogia, deveríamos quase refutar... ela possivelmente sabe sobre Deus tanto
quanto você e talvez bem mais que você sobre o bem e o mal, sobre o que é
vergonhoso ou lisonjeiro".
São profundas reflexões que vão de encontro ao senso comum, que pensa a criança como uma espécie de idiota a ser tutelado e controlado o tempo todo, apenas um imaturo a quem só se ensina as coisas e de quem nada se aprende. Para mim, que tive a sorte de ter um filho inteligente e sensível como você, as palavras de Dostoiévski são uma realidade muito palpável. Apenas espero que a mediocridade e a ganância das pessoas nunca matem a poesia, a verdade e a eternidade que hoje pulsam em você e que hoje brilham em seus olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário