terça-feira, 19 de junho de 2012

Carta ao filho

Arthur Rabelo:                                                              

     Seis meses atrás, vim morar na Inglaterra. Trabalho em Londres, onde sou muito respeitado e muito valorizado em minha atuação como professor e muito valorizado por minha produção intelectual. Estou bem aqui, seguindo a minha vocação e fazendo o que gosto. 
     Vir para cá foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Vivendo em São Paulo, frequentemente eu era acometido por ondas de fúria e vontade de cometer coisas bárbaras por causa de tanta coisa nojenta que tive de enfrentar nos últimos anos, coisas essas que o transformaram num órfão de pai vivo.
     Logo que cheguei a Londres, aluguei um quarto numa casa de família inglesa, para passar os primeiros tempos. A dona do imóvel, Jill Drower, com quem eu sempre conversava, ao ouvir a história de nossa separação num dia em que tomávamos chá no fim de tarde, me recomendou que escrevesse um blog em que relatasse meus sentimentos acerca da distância e dos danos que essa situação tem causado a mim e a você. Eu lhe disse que iria pensar a respeito. Por fim, achei uma boa ideia e resolvi fazê-lo, com a condição de não expor a minha nem a sua imagem.
     Um dia você vai crescer, vai tomar consciência das coisas e vai querer saber de seu pai, que foi obrigado a se afastar e posteriormente aceitar este exílio em que vivo agora.
     Desde que saí da casa onde morávamos, em Belo Horizonte, em 2007, não houve um só dia em que eu não pensasse em você, em que não me lembrasse das muitas coisas boas que pudemos fazer no pouco tempo em que vivemos juntos.
     Hoje você está com sete anos, um rapaz bonito e inteligente. No meu sofrimento destes últimos anos, aprendi que terei de esperar que você cresça um pouco mais e se torne independente. Então poderá vir até mim e será recebido com amor. Mas também chegará um momento em que você terá de fazer uma escolha. Se for por mim, estará apenas e inteiramente comigo. Vamos deixar que o tempo, esse vencedor de todas as coisas, resolva a situação.

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